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Autoconhecimento

O medo do jejum

tambor-xamanico-2Em julho, uma amiga muito querida me convidou para um retiro xamânico de um fim de semana em Extrema, no sul de Minas. O email/convite falava sobre dançar ao som de tambor pela cura de nossos ancestrais e gerações futuras. Me interessou muito e senti uma intuição forte de que deveria ir. Topei.

Na semana que antecedia o retiro, minha amiga me pergunta:

– E aí, preparada para o jejum?

– Que jejum? – perguntei.

– Uai, o retiro é em jejum.

– Sério?! Putz, não sabia. Vamos ficar só na água?

– Não, jejum total. Você não leu o email?

– Tudo não. Li só algumas partes…rs

É bizarro como o jejum me causa pânico! Mesmo já tendo participado de alguns retiros com restrições alimentares, é algo que sempre mexe comigo. Me lembro que durante o primeiro retiro de Leitura de Aura (Aura 1), em Piracanga, em 2015, fiquei P da vida quando falaram logo no início que a proposta era ficarmos somente tomando suco ou água de coco durante a semana do curso. Nossa, eu virei no Jiraya!! Me lembro de olhar pro professor com sangue no zoio e falar: “se eu soubesse que teria jejum, não teria vindo”… Eu já me visualizava com dor de cabeça e o mau humor terrível que me acompanha(va) sempre que tinha fome.

Mas depois de me acalmar, pensei bom, já estou aqui no curso, todos vão fazer, por que não tentar? E também ninguém te obriga a nada né? Tem um restaurante e uma mercearia em Piracanga. Se eu quisesse, poderia jogar tudo pro alto e comer de boa. Me apoiei nisso e fui.

No primeiro dia, foi um pouco estranho, mas bem menos incômodo do que eu pensava. Tive uma dor de cabeça leve mas que melhorava quando eu tomava água. E sempre que chegava o momento do suco, era uma grande alegria pra mim. No segundo dia, eu já fui percebi que, logo depois da meditação da manhã, eu não tinha fome nenhuma. No terceiro dia, o suco chegava e eu já tinha dificuldade de tomar até o final. No quinto dia, eu deixei metade do copo. E os sucos mais grossos, já não desciam. Ao contrário de todo o que incômodo e mau humor que eu previa, me sentia cheia de energia e bem disposta. Fora que os medos e sombras com os quais eu estava lidando eram muito mais assustadores do que a falta de comida. A bolacha que tinha guardado no quarto para casos de emergência mala ficou intacta.

Esse primeiro jejum de uma semana foi uma experiência muito transformadora. Especialmente para eu ver o quanto eu comia bem mais do que precisava e o medo que eu guardava em meu primeiro chakra, centro de energia que rege essas questões ligadas à sobrevivência. Foi incrível também perceber o quanto a meditação e o trabalho espiritual nos dão muito energia e como trabalho interior se intensifica quando o corpo não precisa digerir comida.

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Crédito: carolinemaniere.com

De volta ao retiro xamânico…

Pois bem, mais de um ano depois dessa primeira experiência, lá estava eu indo para um outro retiro com jejum e o medo veio de novo. Eu já sabia que ficaria bem sem comida, mas sem líquido nenhum? Sem água? Ainda que fosse só por três dias, me assustava muito a ideia. Mas, enfim, assim como fiz da outra vez, já estava lá e tinha que tentar.

Na sexta à tarde, aquele medo da escassez me bateu forte e resolvi fazer um estoque de água no meu corpo. Tomei um litro de água de coco e mais um tantão de água mineral. Resultado: no começo da noite, a dança mal começou e eu já tava apertada para ir no banheiro. Quase não consegui me mexer de tanto que minha bexiga doía.

Dançávamos todos juntos, num grupo de quase 40 pessoas ao som de um tambor enorme, tocado por seis pessoas. A vibração era tanta que a gente sentia no corpo. Os passos à frente simbolizavam os caminhos que abríamos para as futuras gerações e os passos pra trás pediam cura e luz para nossos ancestrais. Foi muito forte, emocionante. Mas minha bexiga cheia me atrapalhou. Assim que acabou a primeira sequência, fui correndo no banheiro.

Na volta, todos já se prepararam pra dormir. E quando eu deitei, sentia meu corpo todo vibrando, como se o tambor ainda estivesse tocando dentro de mim. Sentia tanta energia no meu corpo que tava com calor – apesar do frio da noite na montanha – e não conseguia dormir. Dei umas cochiladas e vinham tantos sonhos, tão fortes, que não sabia mais o que era visão e o que era sonho.

Acordei com um algo gelado no meu pescoço que pulava. Presumi que era um sapo. Levantei assustada, procurei ele com a lanterna na barraca, mas não encontrei. E mais uma vez, minha bexiga cheia me incomodava. Tive que levantar na madrugada pra fazer xixi, o que era uma grande aventura já que eu estava dormindo numa barraca montada na grama de um sítio enorme, onde a única luz visível vinha de uma fogueira distante e o banheiro era seco, aquelas cabanas de madeira montada no matinho, sabe? E ficava bem longe da barraca. Mas, enfim, eu não tinha escolha. Fui até lá com a minha lanterna e o alívio do xixi saindo era tanto que nem me abalei com a aranha que estava na porta da cabana e que, felizmente, não se mexeu enquanto eu fazia minhas necessidades. Nessa hora, eu já tinha percebido que a tática de fazer um estoque de água tinha sido uma péssima ideia.

No sábado, começamos a dançar antes mesmo do sol nascer. Dançávamos um pouco, uns 20 minutos, e depois descansamos por cerca de uma hora. E seguimos assim até o pôr-do-sol. E novamente, a questão do jejum me surpreendeu. Não sentia fome. Pelo contrário, estava com muita energia. Desta vez não tinha meditação como em Piracanga, mas tinha o tambor. E quando ele começa a tocar o corpo se enche de energia. Você nem pensa, simplesmente dança. E quanto eu deitava pra descansar e dormir, ainda sente o corpo vibrando.   

Segui muito bem até o domingo de manhã, quando fiquei mal. Acordei pensando em água, com sede e só queria saber a que horas voltaríamos a tomar água. Não tinha fome, só sede. Sentia uma angústia enorme no peito, a garganta tava seca e tinha um nó ao mesmo tempo. Tinha muita vontade de chorar, mas achei melhor segurar. Na minha cabeça chorar significava perder mais água. E consequentemente, me traria mais sede (olha o medo da escassez batendo de novo!!).

Procurei pela xamã que conduzia o processo e relatei minha angústia. Ela me olhou com bastante carinho, falou que faltava muito pouco para o jejum terminar e me deu muita força pra continuar. Disse que eu estava bem, que estava sendo cuidada pelo mestre espiritual que criou aquela dança e que, se eu sentisse vontade, deveria chorar.

Quando voltei pro meu colchão pra descansar, não consegui mais segurar o choro. E chorei muito. Sério, meus olhos eram tipo dois poços artesianos de água limpa, jorrando. Esses processos espirituais sempre trazem muita limpeza. E eu vi que muito mais do que sede, eu tava precisando era chorar. E sei que chorei por mim e por vários que vieram antes de mim na minha ancestralidade e pra quem eu estava dançando já havia dois dias.

E o mais incrível foi que, além de aliviar minha angústia, o choro simplesmente irrigou meus olhos, nariz e, principalmente, a minha garganta, que era o meu grande incômodo físico naquele momento. Senti um alívio imenso – físico e emocional e entendi muitas coisas sobre mim. Duas horas depois, quando o jejum foi encerrado com uma bela cerimônia da água, eu já estava bem mais tranquila. Tomei devagar meu copo d’água com muito prazer, mas sem ansiedade. Vi mais uma vez o quanto sou muito mais forte do que pensava e que o conforto que muitas vezes eu procuro fora pode estar dentro de mim mesma, no meu corpo. E, principalmente, vi o quanto o jejum mostra que eu tenho muito o que aprender quando o assunto é medo.

o que é leitura de aura
Leitura de Aura

Conheça a Leitura de Aura

Antes de explicar como a leitura funciona, é fundamental saber o que é aura. Todo ser humano tem, além do corpo físico, um campo energético onde estão localizados dezenas de centros de energia, conhecidos como chakras, e onde ficam registradas informações sobre nossos estados físico, emocional, mental e espiritual. Aura é o nome dado a esse conjunto de camadas energéticas.

A leitura de aura é uma poderosa ferramenta terapêutica em que, através da meditação, acessamos esse campo energético e visualizamos imagens e mensagens que podem trazer muita clareza sobre o momento que estamos vivendo. É uma forma privilegiada de abrir espaço para ouvir o que nosso espírito tem para nos dizer. Aqui neste espaço falarei mais sobre a leitura de aura e sobre o que estou aprendendo com essa incrível ferramenta.

Se quiser experimentar uma leitura de aura, escreva para contato@espiritualidadepratica.com.br

 

 

Leitura de Aura

O retrato de Deus

Logo que comecei a fazer leituras de aura, me surpreendi muito com as imagens que apareciam no sétimo chakra das pessoas. Esse centro de energia, que fica localizado no topo de nossas cabeças, é justamente o canal que nos conecta com a energia divina.

Apesar de ser algo impossível de compreender racionalmente, as imagens mostravam momentos em que as pessoas tinham uma pequena amostra desse mistério que chamamos de Deus. Descrevo aqui algumas delas:

bebe1Na aura de uma amiga grávida, veio uma cena em que ela estava num parque, em um dia ensolarado, vendo emocionada o seu bebê dar os primeiros passos. Ela ajudava a criança a caminhar e sentia um misto de emoção/orgulho e, ao olhar para o marido, veio uma deliciosa sensação de pertencimento àquela família. A mensagem dizia que, com a maternidade, ela experimentaria um amor tão grande que faria com que ela acreditasse e sentisse a existência de Deus. Traria aquela sensação de que tudo faz sentido e uma enorme gratidão.

Em outra leitura, de uma amiga escritora, apareceu uma folha de papel num caderno com as frases: “Deus é o tudo e o nada. É o vazio que preenche”. Simples assim. Ela disse que já tinha intuído aquelas frases uma vez enquanto escrevia um texto, mas nunca as tinha escrito ou compartilhado com ninguém.

Outra imagem marcante foi na leitura de um rapaz em que, neste chakra, apareceu uma imagem do espaço. Parecia uma foto retirada do site da Nasa: o céu bem escuro, forrado de estrelas e sem qualquer sinal de começo, meio ou fim. Descrevi a cena um tanto confusa e falei que a mensagem era que Deus estava ali. Perguntei rindo se aquilo fazia algum sentido e ele respondeu: “Sim, muito. Pra mim, Deus é isso: o infinito”. E você? Já experimentou alguma vez algo que considera divino?

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O gêmeo solitário

Cheguei à casa do pai de santo cheia de curiosidade e um tanto ansiosa. Era a primeira vez que iria consultar os búzios e queria muito saber quem eram meus orixás protetores e ter previsões para o ano de 2010, que se iniciava.

Ele me explicou que, como não me conhecia, começaria perguntando ao oráculo sobre fatos marcantes do meu passado, para entender melhor o meu presente e, só depois, falar de algumas possibilidades de futuro. Não estava nos planos aquele momento retrospectiva, mas concordei.

De olhos fechados, ele sacudiu as conchas nas mãos, fez suas orações e as jogou sobre um cesto de palha rodeado de guias e pedras. Ao ver o resultado, fez cara de assustado, arregalou os olhos e me perguntou:

M3361S-3034– Você já fez algum aborto?

– Aborto, eu? Não – respondi assustada.

– Tem certeza?

– Claro que tenho.

Ele jogou os búzios novamente. Mais um vez arregalou os olhos e insistiu:

– Pode ter sido um aborto espontâneo…

– Não, nunca.

– Às vezes acontece e a mulher nem percebe…

– Olha, tenho certeza absoluta de que nunca engravidei  – retruquei impaciente.

E aos dois minutos de consulta, eu já me arrependia de estar ali. Comecei a achar que ele era charlatão e estava bem irritada com o tom pessoal e íntimo das perguntas. Além disso, na época, eu era a freak do anti-concepcional: tomava pílula e usava camisinha em absolutamente TODAS as relações, mesmo namorando. Só não coloquei DIU como proteção adicional porque o médico me convenceu de que não havia necessidade.

Ele respirou fundo, jogou os búzios pela terceira vez, fez a mesma cara e mudou a pergunta. Mas não o tema:

– E a sua mãe? Ela teve algum aborto espontâneo antes de engravidar de você?

– Não. O que sei é que minha mãe engravidou inclusive bem antes do planejado, quando minha irmã tinha apenas seis meses. Não houve tentativas anteriores.

Aí quem se irritou foi o pai de santo:

– Olha, minha filha, não é possível! Os búzios estão dizendo que existe um aborto na sua vida! Que você presenciou uma morte dentro do útero. E isso é muito marcante na vida de uma pessoa. Me conte melhor como foi essa gravidez….

Foi então que lembrei de uma história que um dia minha mãe contou por acaso, sem dar muita importância. Ela disse que quando engravidou, o médico informou ao ver o primeiro ultrassom que ela teria gêmeos. A gestação dupla, porém, durou pouco… depois de alguns meses, ela teve um sangramento forte, foi ao médico, fez um novo ultrassom e soube que, infelizmente, tinha perdido um dos bebês. Mas o outro seguia ali firme e forte (eu, no caso).

Quando falei isso, o homem ficou branco. Falou que era este o fato que os búzios tanto apontavam. E durante mais de um hora, ele me explicou sobre a importância de tudo o que vivemos dentro do útero, as consequências daquela experiência na minha vida e sobre como eu deveria ser grata pela minha existência.

Saí da consulta bastante abalada. Nunca (mas nunca mesmo) poderia imaginar que aquela história tinha alguma relevância na minha vida. Muito menos que seria a causa de questões dolorosas e profundas da minha personalidade. Desde então, foram muitas pesquisas, experiências e processos terapêuticos que me ajudaram (e ainda me ajudam) a entender melhor o que essa perda de fato significou pra mim.

Na internet, descobri que em alguns países existem grupos de apoio a pessoas que perderam irmãos gêmeos. Li diversos relatos que descrevem dores parecidas e bem familiares pra mim: sentimento de não merecimento, uma solidão profunda e, principalmente, a sensação de que algo muito importante está faltando. Muitos depoimentos eram de pessoas que, assim como eu, nem sequer conheceram o irmão gêmeo, que ficou no caminho da gestação ou do nascimento.

Em uma leitura de aura sobre a minha gestação, descobri que o trauma daARVORE COM RAIZES LINDA separação ainda estava muito forte no meu inconsciente. E que a conexão de alma gêmea, que eu romanticamente tanto buscava em meus companheiros, era na verdade uma busca pela união que tinha vivido um dia no útero. E que era preciso curar a ferida pra conseguir ter um relacionamento real e não idealizado.

Com a constelação familiar, tive a incrível oportunidade de olhar pra esse irmão, que passou quase despercebido pra minha família, mas que ainda estava tão intimamente ligado a mim. Pude olhar pra ele, reconhecê-lo, agradecê-lo e dar-lhe um lugar de muita honra. Senti um alívio tão grande que é difícil descrever com palavras. Foi como se tirasse uma mochila cheia de chumbo das minhas costas, que eu nem sabia que carregava.

Nas sessões de respiração de renascimento, “voltei” para o útero e senti no corpo físico a dor da separação e da perda. Foi como se tivesse voltado no tempo e terminado de sentir uma dor que, de tão grande, precisou ser digerida em etapas. E ainda está sendo.

E cada vez que investigo um pouco mais, me descubro um pouco mais. Me entendo. Novas peças se encaixam, mudanças acontecem.

Descobri que, apesar de traumática, a experiência me trouxe uma enorme capacidade de entender a dor do outro, uma facilidade enorme de sentir compaixão. É como um presente que foi deixado pelo meu irmão. E que eu nunca teria descoberto se não tivesse ido atrás dessa história. Se não tivesse tentado entender minhas próprias dores.

E junto com esse presente, veio a percepção de que nossas feridas são como valiosas chaves, que nos abrem portas secretas para a transformação. E ter coragem de abri-las é o caminho para curar a alma. É se apropriar da própria história.

Finalmente entendi, como o pai de santo já tinha me avisado, que nem adianta querer saber do futuro sem antes entender o passado. Sem saber direito quem se é. Auto-conhecimento é, na verdade, um grande investimento. E um futuro mais bonito é apenas consequência.

 

 

 

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